Finanças e previdência

Precisamos falar sobre as bets: aposta não é investimento!

Data de Publicação: 28/08/24

Quem gosta de esportes e acompanha na televisão ou redes sociais do seu time preferido com certeza já reparou em como as casas de apostas, ou BETS, estão investindo dinheiro pesado para ficarem cada vez mais conhecidas. Se não bastasse os patrocínios, pessoas públicas, como esportistas e artistas estão sempre “emprestando” suas imagens para essas casas.

Um estudo recente elaborado pelo time de economistas do Itaú¹, mostra estimativas de que nos últimos 12 meses o setor de apostas e jogos online no Brasil movimentaram em transações de brasileiros com o exterior, pouco mais de 1% do PIB nacional, ou o equivalente a mais de R$ 110 bilhões.

Tais informações são corroboradas por estudos elaborados PwC², que além de destacar o volume movimentado pelo setor, demonstrou como tais gastos tem se tornado mais relevantes nos gastos familiares. Segundo dados do Instituto Locomotiva, nas classes C, D e E, parte do dinheiro que costumava ser direcionado para poupança (52% dos respondentes), bares, restaurantes e delivery (48%) são agora usados para as apostas. O mesmo ocorre com compras de roupas e acessórios (43%) e cinemas, teatros e shows (41%). 

O tema também foi abordado na 7ª Edição do Raio X do Investidor Brasileiro³, publicado pela ANBIMA. O estudo relata que 14% dos brasileiros com 16 anos ou mais declararam que fizeram pelo menos uma aposta online em 2023, o que representa cerca de 22 milhões de pessoas. Esse índice supera os percentuais de utilização da maioria dos produtos de investimentos onde o uso de títulos públicos e planos de previdência, por exemplo, têm aderência de apenas 2% cada.

Das pessoas que declararam ter apostado em 2023, 40% indicaram como justificativa a chance de ganhar dinheiro rápido em momento de necessidade e 39% a possibilidade de ter um retorno alto. Outra informação trazida pelo estudo da ANBIMA e que chama atenção, é de que duas em cada dez pessoas apostadoras (22%) consideram as bets uma forma de investimento financeiro. O índice chega a 25% entre os homens.

Outra questão recém veiculada pela mídia nacional, é de que grandes bancos e gestoras de recursos estão adentrando no mundo das bets. Quais os impactos desses grandes players no segmento de apostas e no bolso dos brasileiros? Só saberemos daqui a alguns anos.

Regulamentado desde 2018 nos EUA, as bets também são uma realidade no mercado americano. Em um estudo científico* publicado em julho de 2024 por professores das universidades do Kansas, Brigham Young e Northwestern nos EUA aponta que por lá, famílias que realizam apostas esportivas tiveram redução da disponibilidade de crédito, aumento da dívida do cartão de crédito e grande redução nos recursos investidos. Outra questão apontada é de que famílias com mais restrições financeiras tendem a apostar mais em bets do que famílias com menos restrições.

Os resultados do estudo sugerem que uma redução significativa na parcela destinada pelas famílias americanas a investimentos líquidos ocorre de 2 a 3 anos após as apostas se tornarem legais. Outra descoberta interessante é que as apostas esportivas estimulam gastos maiores (9%) em jogos de loteria. Os pesquisadores alertam que famílias já financeiramente frágeis, elevam ainda mais o risco e a estabilidade financeira ao se envolver em formas adicionais de jogos de azar. Outra evidência encontrada no estudo é de que as apostas em bets também influenciam o orçamento familiar destinado a entretenimento, restaurantes e TV por assinatura. Famílias com baixa poupança e alto endividamento gastaram mais dinheiro em atividades de lazer, sugerindo que as apostas impulsionam um desejo de aproveitar eventos esportivos ao vivo e atividades sociais centradas nessas oportunidades de apostas.
A questão tem sido debatida pelo time de investimento da Elos e a partir destes dados preocupantes, alguns alertas precisam ser feitos:

  • O dispêndio de recursos com as bets não deve ser encarado como um investimento;
  • Em seus orçamentos pessoais e familiares, a poupança em planos de previdência ou outros veículos de investimentos precisam ser priorizados;
  • As pessoas precisam se conscientizar sobre como as bets ganham seus lucros e quais suas reais chances de ganhos, que em geral são baixas;
  • O uso excessivo dos aplicativos de apostas poderá consumir excessivamente seu tempo livre.

O debate sobre tema é relevante e precisa ser pauta das nossas reuniões familiares e sociais. Invista no seu futuro e da sua família com sabedoria. Priorize a segurança financeira e a estabilidade que planos de previdência e produtos financeiros podem oferecer. Não deixe que as bets comprometam sua saúde financeira, seu bem-estar e o de sua família.


Referências:

¹ https://macroattachment.cloud.itau.com.br/attachments/a77e92d9-319f-45ca-b657-6c721241804b/13082024_MACRO_VISAO_Apostas_on-line.pdf

² https://www.strategyand.pwc.com/br/pt/relatorios/o-impacto-das-apostas-esportivas-no-consumo.html

³ https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-brasileiro.htm

* https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4881086

Leonardo Galluzzi Sansivieri

Gerente de Investimentos na ELOS e mestrando em Planejamento e Controle de Gestão pela UFSC. Possui especializações em Gestão Estratégica de Pessoas, Finanças e Mercado Financeiro e Banking. Tem uma carreira sólida no mercado financeiro, com ampla experiência em bancos e em entidades de previdência complementar.


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