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Finanças e previdência

O que é ser pai?

Publicado em 09/08/24

A sociedade está em constante transformação, mas nas últimas décadas, a velocidade dessas mudanças tem sido impressionante. Uma das áreas mais impactadas é a estrutura familiar. Antigamente, a configuração tradicional da família era marcada por papéis bem definidos, com o pai sendo o principal provedor financeiro e a mãe responsável pelo cuidado do lar e dos filhos. No entanto, com a crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho, a evolução das concepções de gênero e a diversidade nas formas de organização familiar, esses papéis rígidos começaram a se flexibilizar. Hoje, as famílias apresentam uma multiplicidade de arranjos, onde ambos os pais muitas vezes compartilham responsabilidades financeiras e domésticas de maneira mais igualitária.

Dentro desse novo contexto, o papel do pai é o que mais se transformou. Deixando de ser apenas a figura autoritária e distante, o pai contemporâneo é cada vez mais envolvido emocional e afetivamente na vida dos filhos. Eu perdi meu pai ainda muito jovem, mas ainda lembro de minha mãe dizendo: “Olha, é melhor você me obedecer, caso contrário, você vai se ver com teu pai à noite.” Fui pai em um momento de transição; infelizmente, não participei muito do primeiro ano de vida dos meus filhos. Não fui um pai que preparava mamadeira e trocava fraldas. No entanto, após a fase de bebê, fui um pai dedicado e amoroso, sem jamais renunciar ao meu papel de educar e impor limites para meus filhos.

É muito fácil ser pai ou mãe que diz sempre “sim” aos filhos; o difícil é dizer “não”. Embora a maior participação dos pais na vida emocional e cotidiana dos filhos traga inúmeros benefícios, é possível observar um lado negativo quando esse envolvimento se torna excessivo e compromete a figura de autoridade paterna. Na busca por serem amigos dos filhos, alguns pais podem acabar abrindo mão de impor limites e regras necessárias para o desenvolvimento saudável das crianças. Esse desequilíbrio pode resultar em falta de disciplina, dificuldade em lidar com frustrações e uma percepção distorcida de autoridade por parte dos filhos. A ausência de uma figura paterna que combine afeto com firmeza pode dificultar a preparação das crianças para os desafios e responsabilidades da vida adulta, evidenciando a importância de manter um equilíbrio entre ser um pai amoroso e alguém que sabe impor limites aos filhos.

Fui professor durante 38 anos e sou pai há 30, e nesse tempo, aprendi o poder das histórias para transmitir mensagens. Há uma história em particular que me marcou profundamente e acredito que ela traz uma lição valiosa sobre o que é ser pai. No final da década de 1970, eu costumava acampar nas praias de Florianópolis, cidade para onde minha mãe, meus irmãos e eu nos mudamos após o falecimento do meu pai. Devo confessar que é difícil imaginar algo mais paradisíaco do que foi Florianópolis naqueles anos. Tínhamos total segurança, belíssimas praias quase desertas, com ótimas ondas para surfar. Pela manhã, pescadores apareciam nas praias com o pescado, que vendiam a preços módicos ou doavam aos surfistas dispostos a prestar alguma ajuda.

Mas até mesmo no paraíso existem problemas. Ainda lembro o dia em que a praia amanheceu cheia de homens preocupados e muitas mulheres chorando. Um barco havia naufragado e pescadores haviam desaparecido. Enquanto nós aproveitávamos as grandes ondas daquela ressaca, observávamos o desespero das pessoas que aguardavam por notícias dos entes queridos. Felizmente, no final do dia, apareceu um barco da marinha com todos os pescadores salvos. Fez-se uma enorme festa na praia. Mães, esposas e filhos abraçavam os náufragos que comemoravam a sorte de ter sobrevivido.

No meio de tanta emoção, um jovem pescador abraçou o pai, pediu perdão e prometeu que, a partir daquele dia, nunca mais sairia ao mar quando o pai assim não lhe recomendasse. O velho pescador olhou para o filho e disse: “Agora você não precisa mais me escutar. De hoje em diante, você tem em seu coração as lembranças de hoje para lhe aconselhar. Você, tem o mar como conselheiro, você já é um pescador.”

Naquele momento, ao testemunhar a reconciliação entre o jovem pescador e seu pai, compreendi uma das lições mais profundas sobre paternidade. Ser pai não é apenas dar ordens e impor limites; é, sobretudo, preparar os filhos para que possam tomar suas próprias decisões com sabedoria. O velho pescador entendeu que seu filho havia aprendido uma valiosa lição, não apenas sobre respeitar a experiência dos mais velhos, mas também sobre a importância de ouvir o próprio coração e confiar em suas capacidades. Essa história me fez perceber que, como pais, nossa maior tarefa é guiar nossos filhos até o ponto em que possam seguir seus próprios caminhos com segurança e confiança, com maturidade para assumir seus acertos e erros.

Refletindo sobre essa experiência, vi que minha jornada como professor e pai se entrelaçava com essa mesma filosofia. Ensinar é, em grande parte, preparar os alunos para que possam enfrentar o mundo com autonomia e discernimento. A emoção do jovem pescador ao prometer seguir os conselhos de seu pai e a sabedoria do velho pescador em liberá-lo para que ele pudesse encontrar seu próprio caminho são lembranças que carrego comigo até hoje. Elas me lembram constantemente que ser pai é um ato de amor que envolve soltar as rédeas no momento certo, permitindo que nossos filhos cresçam e floresçam por conta própria.

No entanto, não gosto de idealizar a paternidade. Todo pai que se dedica aos seus filhos precisa lidar com a tarefa mais importante de suas vidas sem nenhum treinamento prévio e sem nenhuma chance de parar o jogo e recomeçar. Certamente cometi muitos erros na educação dos meus filhos. Adoraria poder voltar atrás para corrigi-los, mas, infelizmente, isso não é possível. Fui leniente em momentos que precisava ser duro, e fui excessivamente rígido quando precisava ter sido brando.

Certamente, enquanto esperava o desfecho do naufrágio, aquele velho pescador deve ter se martirizado por não ter impedido o filho de ir ao mar em um dia inapropriado, mas, se assim o fizesse, não estaria reconhecendo que o filho já era um homem capaz de tomar suas próprias decisões. Afinal de contas, educar é transformar meninos e meninas em homens e mulheres. É preparar as crianças a suportar as inevitáveis frustrações e os enormes riscos da vida adulta.

Com este artigo, gostaria de parabenizar todos os pais em seu dia. Mas quero deixar uma mensagem muito carinhosa para todos aqueles que não têm um pai para abraçar neste dia, seja por desígnios do destino ou pelo execrável abandono dos seus irresponsáveis progenitores. Também gostaria de deixar um carinhoso abraço para todas as mães que são também pais, e para todos aqueles que são pais por amor e afinidade.

E, finalmente, para não deixar de lado minha função de professor de finanças, gostaria de dizer que quem tem filhos dependentes e não paga o INSS, não tem um seguro de vida e um bom plano de previdência, está colocando o futuro dos seus filhos nas mãos da roda da fortuna. Infelizmente, é da natureza da roda, rodar.

Feliz Dia dos Pais!

Jurandir Sell Macedo

Doutor em Finanças Comportamentais com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva, sendo pioneiro nesta área no Brasil. Nosso consultor na área financeira e previdenciária.

jurandirsell.com.br

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