O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento. Atualmente, temos 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos, 23 milhões com mais de 65 anos e quase 5 milhões de pessoas com mais de 80 anos. Em 2050, esses números crescerão significativamente, com 65 milhões de pessoas com mais de 60 anos (aumento de 91,8%), 50 milhões com mais de 65 anos (aumento de 113,7%) e 14 milhões com mais de 80 anos (aumento de 201,1%).
A expectativa de vida para homens que superaram os 60 anos é de 20 anos e 6 meses, enquanto para as mulheres é de mais de 24 anos. Vale lembrar que a expectativa de vida é uma média, ou seja, metade dessas pessoas viverá menos e a outra metade viverá além dessa marca. Estima-se que cerca de 31% das mulheres e quase 20% dos homens que ultrapassaram os 60 anos chegarão aos 90 anos, com números ainda maiores nas regiões mais ricas do Brasil e entre as classes de maior renda. A barreira dos 100 anos já não parece tão intransponível como antes.
De acordo com o Estudo Anual de Aposentadoria da seguradora Allianz de 2024, 63% dos americanos afirmaram se preocupar mais com a falta de dinheiro do que com a morte. Esses dados devem servir de alerta para todos que ainda são jovens e estão trabalhando. É crucial fazer contribuições significativas para a previdência complementar, pois, com o aumento da população idosa em relação à população economicamente ativa, haverá uma enorme pressão por redução do teto de benefícios e elevação da idade de aposentadoria na previdência pública.
Mas para aqueles que já atingiram a idade de aposentadoria e não acumularam um patrimônio suficiente para manter o padrão de vida desejado, o que pode ser feito? Se você está próximo ou já chegou à terceira idade e não tem um patrimônio que lhe permita viver apenas de renda, aqui estão seis conselhos para ajudar:
1. Assuma o controle do seu orçamento: É hora de fazer as contas. Registre todas as suas receitas e despesas em uma planilha. Se você já tem o hábito de manter um orçamento, continue; se não, comece a anotar tudo. Um orçamento serve para que você analise cada despesa, por menor que seja, identificando quais são essenciais e quais podem ser cortadas sem prejudicar significativamente sua vida. Avalie possíveis fontes de novas receitas, como alugar uma garagem, um quarto para um estudante ou um imóvel de lazer por determinados períodos.
2. Evite correr riscos desnecessários: Quando somos jovens, correr riscos pode ser interessante. Grandes quedas nos investimentos financeiros, para um jovem, podem representar uma oportunidade de montar boas posições e esperar o mercado se recuperar. Ir à falência aos vinte e poucos anos pode ser uma lição valiosa, mas passar por isso após os 60 anos pode ser devastador. Diversificar investimentos e focar em parceiros confiáveis é mais importante do que ganhar mais. Ganhar 110% do CDI pode ser significativo para um jovem, mas para quem já está aposentado, a segurança é muito mais importante.
3. Reavalie custos fixos e desapegue-se do que não é essencial: Muitos custos são vistos como inevitáveis, mas na verdade podem ser ajustados com uma simples decisão. Avalie se os imóveis e estruturas que antes faziam sentido ainda são necessários. A casa dos sonhos de outrora pode já não ser a melhor opção, e o carro pode ser substituído por alternativas mais econômicas, como táxi ou Uber. Viajantes experientes viajam com malas menos pesadas, nesta fase da vida, o segredo é aprender que menos pode ser mais, eliminando despesas e pesos desnecessários.
4. Planeje a vida pós-carreira e considere uma nova jornada: Com o aumento da expectativa de vida, surge a oportunidade de viver a terceira idade (dos 60 aos 80) e até a quarta idade (dos 80 aos 100) com qualidade e produtividade. Continuar a trabalhar até os 70 anos pode aumentar significativamente as chances de chegar aos 80 com saúde. No entanto, para muitos, não se trata apenas de parar de trabalhar, mas de mudar de rotina e encontrar um novo propósito. Pensar em uma nova carreira pode ser uma excelente ideia, focando em atividades que ofereçam menos estresse, mais lazer e um sentido renovado de propósito, sem a necessidade de altos salários ou cargos de prestígio. Parar de trabalhar pode parecer um sonho, mas é crucial planejar o que fazer depois.
5. Emancipe financeiramente seus filhos e repense a herança: É fundamental emancipar financeiramente os filhos o quanto antes. Pais que protegem excessivamente acabam prejudicando tanto suas próprias finanças quanto a capacidade dos filhos de se tornarem adultos independentes. Se a educação que você deu não tornou seus filhos maduros, a vida terá que fazê-lo. E quanto mais tarde seu filho precisar se virar sozinho, mais difícil será para ele se adaptar. Com a redução do número de filhos e o aumento da longevidade, a herança perdeu parte de sua importância. Hoje, a herança muitas vezes chega tarde demais para impactar a vida dos filhos, que por sua vez enfrentam dificuldades para cuidar dos pais idosos. A maior herança que você pode deixar para seus filhos é sua própria independência.
6. Considere a mudança de cidade ou para um imóvel de lazer: Algumas cidades são mais baratas e mais amigáveis para idosos. Cidades menores ou bairros com grande concentração de idosos costumam oferecer uma melhor qualidade de vida com menos despesas. Nesses locais, a interação social pode ser maior, e a formação de uma rede de apoio pode ser mais simples. Outra opção é mudar-se para um imóvel de lazer, seja no campo ou na praia, e passar a morar lá. É essencial, porém, planejar cuidadosamente, avaliando o acesso a serviços essenciais, de saúde e a proximidade de familiares e amigos.
Espero que esses conselhos lhe ajudem a aproveitar todos os anos que a revolução da longevidade nos presenteou. E você, tem algum conselho que não mencionei aqui? Que tal compartilhar conosco? Certamente, sua experiência pode ajudar outras pessoas.
Jurandir Sell Macedo
Doutor em Finanças Comportamentais com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva, sendo pioneiro nesta área no Brasil. Nosso consultor na área financeira e previdenciária.