A adolescência, hoje vista como uma etapa fundamental da jornada humana, é uma invenção social relativamente moderna. Nos tempos antigos, a transição da infância para a idade adulta era frequentemente marcada por rituais simbólicos, não havendo espaço para uma fase de transição. Um dia se era crianças e no seguinte já se tornava adulto, assumindo de imediato as responsabilidades dessa nova etapa.
O advento da adolescência como um estágio reconhecido do desenvolvimento ocorreu durante o século XIX. A urbanização crescente e os avanços na área da saúde ampliaram a expectativa de vida e separaram as etapas da existência humana em categorias mais distintas. A obrigatoriedade do ensino para crianças e jovens, uma novidade naquela época, foi determinante para estabelecer um período de preparação antes da vida adulta. Os adolescentes passaram a serem vistos como um grupo à parte, com características e necessidades próprias.
Hoje, com o aumento da longevidade, a sociedade está começando a repensar as fases da vida, especialmente o período que segue a maturidade. Assim, surgiu o conceito de “Second Adulthood” ou “segunda vida adulta”, que ocorre aproximadamente entre os 50 e 70 anos e é reconhecida como uma etapa distinta com seus próprios desafios, oportunidades e características.
Essa nova fase de transição, muitas vezes chamada de “segunda adolescência”. Pessoalmente considero uma comparação pouco adequada. A adolescência é um estágio de preparo para assumir as responsabilidades da vida adulta, enquanto a “Segunda Idade Adulta” é um momento de preparação para um gradual afastamento desses compromissos.
Ao nos tornarmos adultos, nos esforçamos para nos adaptar às normas sociais, buscamos sucesso e construímos relacionamentos. O foco está em estabelecer e manter uma posição na sociedade. É uma época de construção ativa, onde o status e o acúmulo de patrimônio têm grande importância.
Com o avanço para a velhice, entretanto, as prioridades mudam. Passamos a refletir sobre questões mais introspectivas, sobre o significado da vida e sobre nosso papel no mundo. A questão central deixa de ser o que o mundo pensa sobre nós e passa a ser como nós nos percebemos e o que desejamos para o tempo que nos resta.
A velhice já foi vista como um momento de declínio, uma preparação para o inevitável fim. No entanto, na atualidade, especialmente em sociedades mais desenvolvidas, muitos encaram essa fase como um novo começo. Com a possibilidade de viver mais duas, três ou quatro décadas com saúde e vigor. Muitos daqueles que estão na segunda vida adulta estão se reinventando – iniciando novos negócios, explorando novos hobbies e até redefinindo suas relações pessoais.
Ao se desvencilhar das obrigações de status e da pressão social, a velhice oferece a liberdade de uma reavaliação profunda. É uma oportunidade para ponderar sobre as escolhas passadas e reorientar o futuro de acordo com os próprios anseios. Com os compromissos principais já cumpridos, emerge a questão essencial: “O que eu realmente desejo da vida?”. Se na adolescência estamos preocupados em construir o eu, esta fase é de desconstrução de quem a vida nos tornou para sermos o que realmente desejamos.
No entanto, os desafios são inerentes a todas as fases da vida, e a velhice não é exceção. Enfrentamos questões de saúde, mudanças físicas e, às vezes, perdas pessoais significativas. Mas, também, é um tempo para abraçar nossa individualidade, um tempo para colher os frutos do que foi plantado.
A adolescência e a preparação para a velhice compartilham a maravilha e o temor do desconhecido. Se o vigor físico não é o mesmo, para aqueles que se prepararam adequadamente, é a época em que a liberdade chega em seu ápice. É a época em que trocamos “o que temos que ser” por “ser o que queremos”.
E você, se preparou ou está se preparando para viver plenamente os 30 anos de expectativa de vida que ganhamos no último século? Espero sinceramente que sim.
Jurandir Sell Macedo
Doutor em Finanças Comportamentais com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva, sendo pioneiro nesta área no Brasil. Nosso consultor na área financeira e previdenciária.