Finanças e previdência

Caminhos e armadilhas na construção da independência financeira

Data de Publicação: 06/09/23

Antes de adentrar no conceito de independência financeira, é preciso definir o que é independência. Consultando meu velho dicionário Aurélio, encontro a definição de independência como: “livre de qualquer dependência ou sujeição; que tem meios próprios de subsistência.”

Etimologicamente, o prefixo “in” vem do latim e é usado para indicar negação ou ausência. Já “dependente” também vem do verbo latino “dependēre,” que, por sua vez, é a conjugação das palavras “de” (“de baixo, para baixo”) e “pendēre,” que significa “pendurar, ser suspenso.”

A independência é geralmente vista como uma qualidade positiva e é associada a valores como autossuficiência, autodeterminação, responsabilidade e resiliência. No entanto, é importante notar que a independência total é rara, ou talvez sequer exista. Na sociedade atual, todos vivemos em um estado de interdependência, onde há uma troca e colaboração mútua. Portanto, o normal é dependermos de alguém e que alguém dependa de nós.

Na área de finanças pessoais, o conceito mais difundido é que a independência financeira representa a liberdade de viver sem a necessidade de trabalhar para cobrir o próprio sustento. Vem daí o conceito muito difundido de “renda passiva,” que seria a renda gerada pelo patrimônio sem necessidade de trabalhar.

Tenho cautela em utilizar este conceito, pois de forma subliminar ele embute a ideia de que as pessoas não desejam trabalhar, o que nem sempre é verdade.

Considero que a independência financeira não é apenas sobre riqueza, mas sobre controle e liberdade sobre a própria vida. Envolve ter recursos suficientes para sustentar o estilo de vida desejado, o que pode ser alcançado através de um trabalho com propósito ou de um patrimônio que permita viver sem depender de um salário fixo.

Traçando o caminho para a independência financeira

Caminhamos para a independência financeira à medida que precisamos pensar menos em dinheiro no nosso dia a dia. Para tornar este conceito mais claro, gostaria de lhe perguntar: em quanto tempo do seu dia você passa preocupado com a água? Se você vive em um local onde é bem atendido pelo suprimento de água, provavelmente vai se preocupar muito pouco. Agora, basta ficar algumas horas sem água que logo isso passará a ser uma enorme preocupação.

O principal fator de preocupações com o dinheiro são as dívidas. É verdade que dívidas para adquirir a casa própria, para a educação ou para investir em um negócio podem ajudar e melhorar nossa vida. Porém, as dívidas resultantes de desorganização financeira ou da tentativa de viver além das nossas possibilidades vão nos levar a despender parte da nossa vida para pagar juros, e pagar juros só melhora a vida do credor e não do devedor. Então, pagar as dívidas, caso elas existam, é o primeiro passo para a independência financeira.

O segundo fator são os imprevistos da vida. Infelizmente, todos temos imprevistos, e muitas vezes eles implicam na necessidade de recursos financeiros. Portanto, criar uma reserva para imprevistos, equivalente a no mínimo três meses dos nossos gastos, investidos em aplicações de elevada liquidez e baixo risco como os fundos DI ou títulos públicos atrelados à SELIC, vai nos permitir enfrentar os imprevistos sem cair nas dívidas. Além disto os seguros de vida, saúde e patrimonial também são muito importantes.

O terceiro fator de preocupação é a necessidade de recursos para enfrentar a velhice. Todos nós sabemos que, se tivermos sorte, um dia ficaremos velhos, o que vai reduzir ou até mesmo extinguir nossa capacidade de trabalhar.

Muitas pessoas dizem que não se preocupam com o futuro, só que isso é impossível, pois temos um córtex pré-frontal que sempre pensa em passado e futuro. Assim, para reduzir nossa preocupação com o sustento na velhice, é fundamental reservar parte dos nossos recursos atuais para formar um pecúlio para nossa aposentadoria.

Certamente, a melhor forma de preparação para a aposentadoria é através de um bom plano de previdência complementar. Através dele, conseguimos ter redução no imposto de renda, isenção do “come-cotas” e administração profissional das nossas reservas.

Portanto, quando conseguimos eliminar nossas dívidas, formar uma reserva de imprevistos e criar um bom plano de aposentadoria, estamos ganhando a possibilidade de utilizar o dinheiro que sobra para realizar nossos sonhos, e ganhando tranquilidade e paz para aproveitar nossa vida sem preocupações financeiras.

As armadilhas durante o percurso

Dado que mostramos o caminho, chegou a hora de olhar as armadilhas que podem surgir.

A primeira armadilha são os investimentos temerários. A busca por retornos rápidos pode levar a decisões de investimento imprudentes. Investir em ativos voláteis sem compreender os riscos pode resultar em perdas substanciais. O mercado financeiro não é nada simples, e se você não tem tempo e disposição para conhecer seus meandros, o melhor é evitar investir naquilo que você não tem domínio.

A segunda armadilha é tentar manter um estilo de vida incompatível com sua renda. Aumentar os gastos na proporção ao aumento da renda impede a formação de uma reserva de imprevistos e a formação de um bom pecúlio para a aposentadoria. Portanto, viver um degrau abaixo das suas possibilidades vai melhorar e não piorar sua vida.

A terceira armadilha é a falta de planejamento e disciplina. Sem um plano claro e a disciplina para segui-lo, a jornada para a independência financeira pode ser desviada. Definir metas claras e trabalhar consistentemente para alcançá-las é vital.

A busca pela educação financeira é um dos passos mais importantes. Ter o conhecimento necessário para tomar decisões financeiras sábias é crucial para uma vida de realizações e qualidade de vida.

A independência financeira é um objetivo admirável, mas alcançá-la exige conhecimentos e dedicação.

A ELOS quer estar ao seu lado nesta jornada. Entre em contato com nosso atendimento e solicite uma consultoria personalizada!

Jurandir Sell Macedo

Doutor em Finanças Comportamentais com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva, sendo pioneiro nesta área no Brasil. Nosso consultor na área financeira e previdenciária.

jurandirsell.com.br

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